O que é o terror noturno?
O terror noturno é um distúrbio do sono que comumente afeta crianças, manifestando-se como episódios intensos de medo e agitação durante a noite. Ao contrário dos pesadelos, que ocorrem durante a fase de sono REM e são frequentemente lembrados pela criança, os terrores noturnos acontecem em fases mais profundas do sono, geralmente nas primeiras horas após o adormecer.
A fase REM do sono é um dos estágios mais fascinantes e importantes do ciclo do sono. Durante esta fase, que geralmente ocorre cerca de 90 minutos após o início do sono, o cérebro se torna altamente ativo, semelhante ao estado de vigília, enquanto o corpo permanece em um estado de paralisia muscular temporária. Isso é conhecido como atonia, que evita que a pessoa atue fisicamente nos sonhos que está tendo.
A fase REM é vital para a saúde mental e emocional. Estudos sugerem que o sono REM desempenha um papel crucial na consolidação da memória, ajudando a processar e armazenar informações aprendidas durante o dia. Além disso, acredita-se que essa fase contribua para a regulação do humor e a criatividade, permitindo que o cérebro reorganize informações e faça conexões novas.
Em resumo, a fase REM do sono é um componente essencial do ciclo do sono, caracterizada por intensa atividade cerebral, movimentos oculares rápidos e sonhos vívidos. Sua importância vai além do descanso, influenciando aspectos significativos da memória, aprendizado e bem-estar emocional.
Em situação de terror noturno, durante a fase REM do sono, a criança pode gritar, chorar e exibir comportamentos de pânico, mas, surpreendentemente, não está completamente acordada e muitas vezes não se recorda do ocorrido ao despertar.
Quais são os principais sintomas do terror noturno?
Os sinais de terror noturno incluem gritos repentinos, movimentos bruscos e uma expressão facial de medo ou terror. A criança pode parecer estar acordada, mas é comum que esteja em um estado de semi-consciência, reagindo de forma confusa e desorientada. Esses episódios podem durar de alguns minutos até meia hora, e, ao fim do episódio, a criança geralmente volta a dormir sem despertar completamente. Isso pode ser angustiante para os pais, que muitas vezes se sentem impotentes diante do sofrimento aparente do filho.
Importante ter em mente que o terror noturno não se confunde com o sonambulismo. Como explicado, o terror noturno ocorre durante o sono profundo, geralmente nas primeiras horas da noite. Durante um episódio, a criança pode exibir sinais de intenso medo, como gritos, choro e agitação, mas frequentemente não está completamente consciente do que está acontecendo. Embora pareça acordada, a criança geralmente não consegue se lembrar do episódio ao despertar. Esses episódios podem ser angustiantes para os pais, mas, na maioria das vezes, não representam um perigo físico e tendem a diminuir com o tempo.
Por outro lado, o sonambulismo é um distúrbio em que a pessoa se levanta e anda enquanto ainda está em um estado de sono profundo. Durante um episódio de sonambulismo, a pessoa pode realizar atividades cotidianas, como andar pela casa ou até mesmo falar, mas não tem consciência de suas ações. Diferente do terror noturno, que é caracterizado por reações emocionais intensas, o sonambulismo geralmente não envolve medo ou angústia. Além disso, o sonâmbulo pode acordar de forma desorientada ao ser interrompido, mas é mais provável que ele não tenha lembranças do que fez enquanto sonâmbulo.
Qual a faixa etária mais afetada pelo terror noturno?
Os terrores noturnos são mais prevalentes entre crianças de 3 a 8 anos, embora possam ocorrer em idades mais jovens e, em casos raros, em adolescentes. A maioria das crianças que apresenta esse distúrbio tende a superá-lo com o tempo, à medida que amadurecem e seus padrões de sono se estabilizam.
As crianças são mais suscetíveis ao terror noturno por várias razões, principalmente relacionadas ao seu desenvolvimento emocional e neurológico. Em primeiro lugar, durante a infância, o cérebro ainda está em processo de maturação. As áreas responsáveis pelo controle das emoções e a regulação do sono não estão completamente desenvolvidas, o que pode levar a uma maior instabilidade emocional e a reações mais intensas durante o sono.
Outro fator importante é a natureza da imaginação infantil. As crianças têm uma capacidade vívida de imaginar cenários e criaturas, o que pode torná-las mais vulneráveis a medos e ansiedades. Mesmo experiências aparentemente normais do dia a dia podem ser reinterpretadas de forma assustadora durante a noite, especialmente quando estão em um estado de sono profundo.
Além disso, os terrores noturnos costumam ocorrer durante as transições entre os estágios do sono, o que pode ser mais frequente em crianças. Elas tendem a passar rapidamente de um sono leve para um sono profundo, o que pode resultar em episódios de terror noturno. Fatores externos, como estresse, mudanças na rotina ou experiências traumáticas, também podem aumentar a probabilidade desses episódios.
A falta de habilidades de enfrentamento para lidar com emoções intensas é outra razão pela qual as crianças podem ser mais afetadas. Elas ainda estão aprendendo a processar e entender suas emoções, o que pode resultar em respostas exageradas a situações que as deixam ansiosas.
Por fim, a genética e o histórico familiar também desempenham um papel. Se houver antecedentes de distúrbios do sono na família, as crianças podem ter uma predisposição maior para experimentar terrores noturnos.
Esses fatores combinados tornam as crianças mais vulneráveis a esse fenômeno do sono, embora a maioria delas supere esses episódios à medida que crescem e desenvolvem habilidades de enfrentamento mais eficazes.
Impacto do terror noturno nos pais
A experiência de um terror noturno pode ser angustiante não apenas para a criança, mas também para os pais. Ao testemunhar um episódio, os pais muitas vezes se sentem ansiosos e sem saber como agir. É importante que, durante um episódio, eles mantenham a calma e evitem acordar a criança, já que isso pode causar mais confusão e estresse.
Com efeito, acordar uma criança durante um episódio de terror noturno não é recomendado por várias razões. Em primeiro lugar, é importante entender que, durante esses episódios, a criança está em um estado de sono profundo, muitas vezes em um nível de consciência que não permite que ela reconheça ou responda a estímulos externos. Ao acordá-la, você pode causar confusão e desorientação, fazendo com que ela não consiga compreender o que está acontecendo.
Além disso, ao ser despertada abruptamente, a criança pode experimentar uma sensação de medo ou pânico ainda maior, já que ela pode não ter noção do ambiente ao seu redor. Esse estado de alerta repentino pode intensificar a experiência negativa e gerar mais ansiedade, não apenas em relação ao episódio atual, mas também em relação ao ato de dormir no futuro.
Outro ponto a ser considerado é que, muitas vezes, a criança não se lembra do episódio após o despertar. Isso significa que, ao tentar acordá-la, você pode interromper um processo natural de sono que, de outra forma, se resolveria sozinho. O ideal é garantir que a criança esteja segura e confortável, proporcionando um ambiente tranquilizador até que o episódio termine naturalmente.
Por último, ao evitar acordá-la, você permite que a criança complete o ciclo do sono sem interferências, ajudando-a a voltar a um estado de sono tranquilo após o episódio. Com o tempo, e com o suporte adequado, muitos casos de terror noturno tendem a diminuir e se resolver sozinhos, especialmente quando os pais oferecem um ambiente seguro e acolhedor.
A seguir, recomendamos 12 estratégias para tratar e prevenir o terror noturno.
1. Estabeleça uma Rotina de Sono Consistente
Criar uma rotina de sono regular é essencial para garantir uma boa qualidade de sono nas crianças. A consistência em horários de dormir e acordar ajuda a regular o relógio biológico, tornando mais fácil para a criança adormecer e acordar naturalmente. Isso é especialmente importante, pois o sono adequado está intimamente ligado ao desenvolvimento físico e mental, à capacidade de concentração e ao bem-estar emocional.
Uma rotina tranquila e previsível pode incluir uma série de atividades relaxantes que sinalizam para o corpo que é hora de desacelerar. Começar a rotina cerca de 30 a 60 minutos antes do horário de dormir pode ser uma boa estratégia. Durante esse tempo, as crianças podem realizar atividades como tomar um banho morno, que ajuda a relaxar os músculos e a diminuir a temperatura corporal, facilitando a transição para o sono.
Além disso, ler um livro pode ser uma ótima forma de acalmar a mente. Histórias suaves, com ilustrações tranquilas, não só incentivam a imaginação, mas também proporcionam um momento especial de conexão entre pais e filhos. Essa prática pode criar um ambiente acolhedor e seguro, onde a criança se sente confortável e pronta para dormir.
2. Crie um Ambiente de Sono Confortável
Um espaço de sono ideal deve ser escuro, silencioso e confortável. Use cortinas blackout para bloquear a luz e, se necessário, um umidificador para garantir que o ar esteja agradável. Um quarto tranquilo, com temperaturas amenas e um ambiente livre de distrações, facilita a transição para um sono profundo e reparador.
Em geral, a faixa ideal de temperatura para o quarto infantil fica entre 20°C e 22°C. Essa temperatura favorece um ambiente confortável, onde a criança pode se aconchegar e relaxar sem se sentir excessivamente quente ou fria.
Quando o ambiente está muito quente, o corpo da criança pode ter dificuldade em regular sua temperatura, o que pode resultar em desconforto e interrupções no sono. O calor excessivo também está associado a uma qualidade de sono inferior, aumentando a probabilidade de agitação e acordar durante a noite. Por outro lado, se o ambiente estiver muito frio, a criança pode se sentir desconfortável e ter dificuldades para adormecer.
Para alcançar a temperatura ideal, é importante considerar fatores como a estação do ano, o tipo de roupa de cama utilizada e a vestimenta da criança. Durante os meses mais quentes, ventiladores ou ar-condicionado podem ajudar a manter a temperatura adequada, enquanto, no inverno, o uso de cobertores adequados e a regulação do aquecimento podem garantir um ambiente acolhedor. Além disso, manter as janelas abertas para permitir a circulação de ar fresco pode ser benéfico, desde que não esteja muito frio do lado de fora.
Outro aspecto importante é a umidade do ambiente, que também pode influenciar a qualidade do sono. Um nível de umidade entre 40% e 60% é ideal, pois ajuda a evitar desconfortos como a secura nas vias respiratórias, que pode interferir no descanso da criança. Utilizar um umidificador, se necessário, pode ser uma solução eficaz em ambientes muito secos.
3. Reduza Estímulos Antes de Dormir
Evitar estímulos excessivos à noite é crucial. A exposição a telas de dispositivos eletrônicos antes de dormir pode dificultar a capacidade da criança de relaxar, devido à luz azul que interfere na produção de melatonina, o hormônio responsável por regular o ciclo do sono. Quando a criança se expõe a telas, especialmente nas horas que antecedem o sono, o cérebro recebe sinais de que ainda é hora de estar acordado, o que pode atrasar a sensação de sonolência.
Além disso, o conteúdo muitas vezes estimulante de jogos, vídeos ou redes sociais pode aumentar a excitação emocional, tornando mais difícil a transição para um estado relaxado. Isso cria um ciclo vicioso: a criança se sente mais alerta e agitada, o que pode levar a uma dificuldade ainda maior em adormecer. Ao limitar o uso de dispositivos eletrônicos nas horas noturnas e substituí-los por atividades mais tranquilizadoras, como leitura ou jogos de tabuleiro, os pais podem ajudar a criar um ambiente mais propício ao descanso, favorecendo a produção natural de melatonina e melhorando a qualidade do sono.
4. Pratique Técnicas de Relaxamento
Ensinar a criança a praticar técnicas de relaxamento, como respiração profunda, pode ser muito benéfico. Exercícios simples, onde ela inala lentamente pelo nariz e exala pela boca, ajudam a acalmar o sistema nervoso. A visualização guiada para crianças ou atividades de ioga leve também podem ser incorporadas na rotina noturna.
No caso da respiração profunda, trata-se de uma técnica simples que pode ser muito eficaz. Ensine a criança a respirar lentamente: inspire pelo nariz contando até quatro, segure a respiração contando até quatro e, em seguida, expire pela boca contando até quatro novamente. Você pode fazer isso junto com ela, transformando a atividade em um jogo. Incentive-a a imaginar que está enchendo uma bola de ar ao inspirar, e esvaziando-a ao expirar. Esse processo ajuda a acalmar o sistema nervoso e reduz a ansiedade.
Já a visualização guiada envolve levar a criança a imaginar um lugar tranquilo e seguro, como uma praia ensolarada ou uma floresta mágica. Peça que feche os olhos e visualize cada detalhe desse lugar, desde os sons até os cheiros. Você pode descrever a cena para ela, ajudando-a a mergulhar na imaginação. Isso pode afastar os pensamentos ansiosos e criar um espaço mental relaxante.
5. Converse Sobre Medos
Criar um espaço seguro para que a criança expresse seus medos é fundamental. Sentar-se com ela e discutir quaisquer preocupações pode ajudar a desmistificá-las. Incentive-a a compartilhar o que a incomoda e ajude-a a entender que esses sentimentos são normais, oferecendo apoio e compreensão.
Ajudar uma criança a entender o que significa sentir medo é uma parte importante do seu desenvolvimento emocional e social. Os pais podem adotar várias abordagens para tornar essa experiência mais clara e acessível.
Contar histórias ou ler livros que abordem o medo de forma lúdica pode ajudar a criança a identificar e entender suas próprias emoções. Personagens que enfrentam seus medos podem servir como modelos. Discutir o que esses personagens sentem e como eles lidam com o medo pode proporcionar uma perspectiva mais ampla sobre a experiência, ajudando a criança a ver que o medo é uma emoção como outras e deve ser enfrentada.
Sem contar que os pais devem ser modelos também no enfrentamento do medo. Compartilhar suas próprias experiências, mostrando como enfrentam e superam seus medos de forma saudável, pode ensinar à criança que é possível lidar com essas emoções de maneira construtiva.
Com essas abordagens, os pais podem ajudar a criança a compreender e aceitar o medo como uma parte normal da vida, promovendo um desenvolvimento emocional saudável e a construção de resiliência.
6. Evite Mudanças Drásticas na Rotina
Mudanças significativas na vida, como a entrada em uma nova escola, a chegada de um irmão ou mudanças no lar, podem aumentar a ansiedade nas crianças. Tente manter a rotina o mais consistente possível durante períodos de transição e ofereça suporte adicional para ajudar a criança a se adaptar.
Mudanças significativas podem causar desregulação emocional. As crianças podem não ter as ferramentas necessárias para expressar ou lidar com suas emoções de forma adequada. Isso pode levar a reações emocionais intensas, como raiva ou tristeza, dificultando ainda mais a adaptação à nova situação.
7. Implemente um Ritual de Boa Noite
Um ritual de despedida pode ser uma maneira eficaz de proporcionar segurança. Isso pode incluir um abraço apertado, um beijo ou uma frase especial antes de desligar a luz. Esse ritual deve ser breve e reconfortante, ajudando a criança a se sentir amada e segura antes de dormir.
Pode ser interessante também, a criança ter um objeto que lhe traga conforto, como um travesseiro especial ou um bichinho de pelúcia, isso pode oferecer segurança emocional. Ter esse objeto próximo pode ajudá-la a se sentir mais protegida durante a noite.
8. Tranquilize a Criança Durante Episódios
Durante um episódio de terror noturno, é importante que os pais permaneçam calmos. Em vez de tentar acordar a criança, mantenha a segurança do ambiente, garantindo que ela não se machuque. Falar suavemente e de forma tranquilizadora, sem forçá-la a acordar, pode ajudar a acalmá-la sem causar mais confusão.
As crianças são muito sensíveis às emoções dos adultos; se os pais demonstram preocupação ou agitação, isso pode aumentar a ansiedade da criança. Falar em um tom suave e reconfortante pode ajudar a transmitir segurança.
Ter uma luz noturna suave pode ajudar a reduzir a sensação de medo. Um espaço acolhedor, com cobertores e brinquedos de conforto, pode oferecer uma sensação de proteção.
9. Registre Padrões de Sono e Mantenha um Diário de Sonhos
Um diário de sono pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar a criança a processar suas emoções. Incentive-a a escrever ou desenhar sobre seus sonhos e medos, o que pode ajudá-la a lidar melhor com eles. Esse exercício pode promover um entendimento mais profundo de suas experiências noturnas e fornecer um canal de comunicação entre pais e filhos.
Fazer um diário de sono pode ajudar na identificação de padrões e gatilhos. Anote as noites em que ocorrem os terrores noturnos e quaisquer eventos ou mudanças que antecedem esses episódios. Isso pode ajudar a compreender melhor o que pode estar contribuindo para os episódios e permitir que você tome medidas preventivas.
10. Consulte um Profissional se Necessário e foque no Bem-Estar Emocional
Se os terrores noturnos forem frequentes ou causarem grande preocupação, é aconselhável procurar a ajuda de um profissional de saúde. Um pediatra ou especialista em sono pode oferecer uma avaliação mais aprofundada e sugerir intervenções personalizadas, como terapia comportamental ou, em alguns casos, medicação.
Promover o bem-estar emocional da criança é fundamental. Incentive-a a participar de atividades físicas, brincar ao ar livre e socializar com amigos. Essas experiências ajudam a liberar energia acumulada e reduzem a ansiedade, contribuindo para um sono mais tranquilo.
Conclusão
Em síntese, o terror noturno é um fenômeno do sono que pode ser assustador, mas geralmente é passageiro. Essas estratégias podem ser implementadas de forma gradual e adaptadas às necessidades específicas da criança, promovendo um ambiente mais seguro e tranquilo para o sono. Com compreensão e suporte adequados, tanto crianças quanto pais podem superar essa fase desafiadora sem consequências prejudiciais à criança.